terça-feira, 22 de agosto de 2017

A CHACINA QUE O MUNDO TODO VIU MENOS OS BRASILEIROS,

em 22-08/2017 6:12
Do Coletivo Geólogos pela Democracia 
Genocídio no Brasil, Campo de concentração em Minas Gerais, aquela que depois se tornaria o grande ícone da imprensa no Brasil da um show de desinformação; estrangeiros vem no Brasil, filmam tudo e as imagens rodam o mundo.
O grande ícone da grande imprensa brasileira, estrategicamente, acusa erroneamente garimpeiros brasileiros da chacina mobilizando a opinião pública mundial contra o Brasil. A justiça brasileira investiga e, um mês depois, descobre que a culpa são de empresas como a Arruda e Junqueira, empresas terceirizadas por Nelson Rockefeller e pela CIA para o extermínio generalizado de centenas de tribos que vivem em regiões de interesse de mineradoras internacionais. Mas isso não é transmitido para o mundo e nem para o Brasil. Segundo decisão dos donos da grande emissora “para não gerar uma visão negativa do Brasil do exterior”.
O ano é 1963. O padre Edgar Smith recebe em seu confessionário o genocida Ataíde Pereira que prevendo a morte breve e atormentado pelos crimes que havia cometido procura o padre para confessar seus pecados e tentar de alguma forma mudar o rumo das coisas. Todos seus companheiros já estão mortos, o chefe da expedição, Francisco Brito, o piloto do avião que bombardeara a tribo e até o próprio padre Edgar estariam mortos algumas semanas mais tarde. Além disso não havia recebido os quinze dólares prometidos pelo serviço. O padre convenceu Pereira de repetir sua confissão em um gravador e entregou a fita ao SPI, Serviço de Proteção ao Indio. O caso foi abafado no Brasil mas não no mundo. Finalmente, com toda a pressão internacional o caso chega ao procurador geral de justiça que pede uma investigação completa do caso.
Homem é torturado em público, preso ao temido pau-de-arara, durante uma demonstração de métodos de tortura institucional da Guarda Rural Indígena, em Minas Gerais. Foto de 1970
As provas do genocídio são incontestáveis, 20 volumes de provas são coletados e acusam que entre 1957 e 1968 cerca de 100 mil índios, foram assassinados por mineradoras estrangeiras. Os que não resistiram a ocupação, tiveram a vida poupada e foram levados para Crenaque em M.G. onde existia um enorme campo de concentração onde mais alguns milhares morreriam de fome e maus tratos. O detalhamento do genocídio é chocante, os Nambikuaras haviam sido mortos com metralhadoras, os Pataxós com variola inoculada no lugar de vacinas, os Canelas mortos por jagunços, os Maxakalís drogados e mortos a tiros, os Beiços de Pau receberam alimentos com formicida e arsênico. Todas as tribos estudadas pelo SIL haviam sido mortas, o Instituto Summer de Linguistica aprendia a lingua da tribo o suficiente para dar alternativa aos indios. Ou eles fugiam para o campo de Crenaque ou morreriam.
Trechos da confissão de Pereira mostram como era a vida do matador. ...”estavamos com bastante medos uns dos outros. Nesse tipo de lugar, as pessoas atiram umas nas outras e são alvejadas, pode-se dizer, sem saber a razão. Quando abrem um buraco em você , eles tem mania de enfiar uma flecha na ferida, para colocar a culpa nos indios…” As próximas vítimas eram os Cintas-Largas, uma pequena tribo indígena da Amazônia brasileira que havia cometido o erro de se instalar sobre uma mina de nióbio e se recusavam a sair. O depoimento de Pereira, da chacina dos cintas largas mostra como era o cotidiano desses matadores. “…Após metralhar toda tribo haviam sobrado somente uma jovem menina e uma criança que chorava abraçada a menina no centro da aldeia. Os matadores pedem pela vida da menina alegando que pode ser usada para prostituição. Chico atravessou a cabeça da criança com um tiro, ele parecia descontrolado ficamos muito assustados. Ele amarrou a garota índia de cabeça para baixo numa árvore, as pernas separadas, e a rasgou ao meio com o facão. Quase com um único golpe, eu diria. A aldeia parecia um matadouro. Ele se acalmou depois de cortar a mulher e nos disse para queimar as cabanas, jogar os corpos no rio. Depois disso, pegamos nossas coisas e retomamos o caminho de volta, tomando cuidado para esconder nossas pegadas. Mal sabia que um dia a pegada a ser apagada seria ele…”
Depois de atirar na cabeça do bebê, cortaram ao meio a sua mãe, uma índia da Tribo Cinta Larga. Foto provavelmente da década de 60 ou mais antigo
No fim foi provado que o SPI estava diretamente envolvido nas chacinas com a distribuição de roupas contaminadas por variola, alimentos envenenados, crianças escravizadas, mulheres prostituidas e muito mais. Dos 700 funcionários 134 foram processados mas todos perdoados na ditadura, foram então treinados pela CIA aos moldes da Policia Tribal do Departamento de Assuntos Índios (BIA) dos EUA e colocados sob a chefia do ex-chefe do serviço militar de informações. Assim por mais alguns anos a FUNAI adotou a politica de arrendar terras indígenas para empresas mineradoras, encaminhando os índios para morrerem em Crenaque. Os militares do ministério do interior cooperavam com a agência americana de pesquisa geológica mapeando a Amazônia. Trechos do livro “Seja Feita a Vossa Vontade” de Gerard Colby com Charlotte Dennett.
Expedição do SPI ao Xingu. Primeiro contato com os índios Mehinaku, 1944. Foto de Heinz Forthmann/Museu do Índio/Funai
A grande e maior rede de TV do Brasil é uma ferramenta criada pela CIA para esconder a operação Brother Sam e a extração de nióbio do Brasil. Através de Nelson Rockefeller a CIA obtém, usando a CBMM do falecido amigo e sócio, Walter Moreira Salles o nióbio de Araxá praticamente de graça. Quando Getulio Vargas, descobriu e tentou interromper esse processo foi deposto no golpe militar que levaria a sua morte.Quando Jango descobriu, cassou a Hanna Mineradora e anunciou as reformas de base também morreu. Em todos esses momentos Moreira Salles estava presente.
Agora que o Ministério Público começou a investigar a relação desta emissora com a CBMM surgiu a PEC 37. Se não colar, os tumultos estão ai nas ruas, como o IPES fez em 1964 criando o caos para justificar a intervenção militar. Não podemos fazer protestos violentos e a razão da luta não pode ser aumento do preço da passagem e sim o fim da exploração oculta do nióbio. Isso é a origem de todo problema.
Precisamos mostrar aos EUA que nós sabemos o que está se passando para que ele libere ainda mais a famosa emissora e grande rede de TV brasileira da obrigação de nos manter desinformados, sempre sabotando o QI dos brasileiros com programas alienantes, condenando ao esquecimento nossos heróis e políticos honestos e escondendo o extermínio sistemático dos nossos índios para beneficiar as empresas estrangeiras, facilitando seus interesses, até tomarem posse de suas terras sem serem notadas. Acorda Brasil!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Houve corrupção em todos os governos militares.

Houve corrupção em todos os governos militares
Durante as manifestações ocorridas no dia 15 de março, bem como nas chamadas “redes sociais” e até em conversas nos lugares públicos, algumas pessoas têm falado em volta da ditadura militar para acabar com o problema da corrupção. Na maioria dos casos, trata-se de desinformação ou mito de que as Forças Armadas são marcadas pela honestidade, quando a realidade mostra o contrário, e não poderia ser diferente. A corrupção, como mostra a história do Brasil e do Mundo é inerente ao capitalismo e a todos os sistemas fundamentados na exploração, na dominação de uma minoria, e penetra todas as instituições e o modo de pensar da sociedade. Por isso, é comum vermos uma pessoa rica bradar contra a corrupção e, ao mesmo tempo, sonegar imposto de imposto de renda ou vender mercadorias contrabandeadas. Nosso país sofreu 21 anos de ditadura militar. Mostraremos a seguir alguns episódios de corrupção ocorridos na época e que não eram divulgados pela mídia porque toda ela estava sob controle ferrenho, por adesão dos seus proprietários ou por uma feroz censura no caso dos órgãos independentes. Assim, o povo não sabia, mas que acontecia, acontecia. Sem dúvida, além de arrochar o salário dos trabalhadores, promover um grande desemprego, torturar, matar e esconder os corpos dos revolucionários que lutavam por liberdade, entregar grande parte de nossas riquezas para multinacionais, aumentar a mortalidade infantil e a concentração de renda, a ditadura militar ampliou e desenvolveu a corrupção em nosso país. A corrupção durante a ditadura De fato, apesar de afirmarem que o combate à corrupção fora um dos motivos para o golpe militar de 1964, os generais que comandavam a ditadura implantaram os governos mais corruptos da história do Brasil. Porém, devido à censura, à perseguição e morte de jornalistas como Vladimir Herzog, os escândalos de corrupção ficavam encobertos. De 1964 a 1980, o Congresso Nacional ficou proibido de instalar Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os casos de corrupção. Somente em 1981, cinco antes do fim do regime militar, é que o Congresso instalou a primeira CPI para investigar a corrupção no “Caso Lutfalla”, que envolvia diretamente o então governador de São Paulo, Paulo Maluf. O mesmo que, após 35 anos, continua livre e com bilhões depositados no exterior. Os escândalos foram muitos. Vejamos alguns deles. O general Humberto Castelo Branco, primeiro governo militar após o golpe, destruiu uma companhia aérea e passou todos os seus bens para a Varig, cujo dono, Rubem Berta, apoiou o golpe e era amigo íntimo dos militares. Na época, a Panair do Brasil era a maior companhia aérea do País, mas por meio de um telegrama do ministro Eduardo Gomes, da Aeronáutica, teve sua licença para voar cassada e o patrimônio confiscado porque o grupo acionário era ligado a Juscelino Kubitschek, opositor do regime. No mesmo dia, os hangares da empresa foram ocupados por soldados da Aeronáutica e a Varig assumiu todas as rotas internacionais da rival. Nepotismo e superfaturamento de obras No governo do general Costa e Silva, os escândalos aumentaram. Em seu livro Brasil, de Castelo a Tancredo, o historiador Thomas Skidmore informa que Costa e Silva foi acusado pelo general Moniz Aragão “de obter favores para seus parentes”. Emanuel da Costa e Silva, irmão do presidente da República e funcionário público aposentado, foi nomeado aos 65 anos de idade para o cargo de ministro do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul pelo governador Peracchi Barcelos a pedido do general Costa e Silva. A indicação foi considerada irregular pela Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa, pois o sr. Emanuel da Costa e Silva não possuía os requisitos exigidos por lei para o cargo – conhecimentos jurídicos, financeiros e administrativos – e, como aposentado, com mais de 60 anos, contrariava outra exigência constitucional: permanência mínima de dez anos na função, já que a compulsória é aos 70 anos. Derrotado na Comissão, o Governo do Estado forçou a homologação da mensagem pelo plenário da Assembleia, onde a sua bancada passou a ter maioria, depois da cassação dos mandatos de vários deputados da oposição. Dona Iolanda, mulher do general Costa e Silva, entrou para a História como a primeira-dama que mais festas realizou em Brasília. Promoveu diversos desfiles no palácio do governo, além de ricos jantares e longas rodadas de pôquer no Palácio da Alvorada, que iam até o sol raiar. Partiu dela a ideia de nomear Paulo Maluf para a presidência da Caixa Econômica Federal (CEF) e depois para a prefeitura de São Paulo. Em troca, Maluf a presenteou com um colar de diamantes. Dulce Figueiredo, esposa do general Figueiredo, preferia as festas no Rio. Era comum requisitar o avião presidencial para decolar rumo ao Rio e dançar em festas abrilhantadas pela presença do ator Omar Shariff com muito champanhe e caviar importados. Outro caso suspeito, mas nunca investigado, foi a compra, pelo governo militar, de 195 vagões para a Rede Ferroviária Federal da empresa norte-americana General Electric, embora o presidente da GE, Thomas Smiley, tenha confessado que pagou suborno à direção da Rede Ferroviária para a venda ser concretizada. O detalhe é que, então, coronel Álcio Costa e Silva, filho do ex-presidente Costa e Silva, era diretor da General Electric. Também houve superfaturamento na construção da Ponte Rio-Niterói e da Ferrovia do Aço, em 1976 e 1977, e na aquisição de guindastes pelo Departamento Nacional de Vias de Navegação durante a gestão do ministro Mário Andreazza. Geisel, Golbery e a Dow Química No governo do general Ernesto Geisel não foi diferente. Sob o argumento de desenvolver o Nordeste, o general Geisel criou o polo petroquímico de Camaçari, na Bahia. Mas, por trás dessa decisão, estava a intenção de favorecer a instalação da Dow Química, empresa da qual o general Golbery do Couto Silva foi consultor e presidente antes de se tornar ministro de Geisel. A Dow Chemical Company é uma multinacional de produtos químicos e agropecuários que, durante a Guerra do Vietnã, foi a principal fornecedora do napalm para as Forças Armadas estadunidenses. Após sair do governo, em 1980, o general Geisel foi presidir, com polpudos salários e várias mordomias, os conselhos de Administração da Copene e da Norquisa, empresas pertencentes à Dow Química. A revista alemã Der Spiegel também denunciou a corrupção que envolveu a construção das usinas nucleares Angra I e II, assim como o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha firmado em 1975. As usinas nucleares foram construídas com tecnologia mais cara e ultrapassada da multinacional Westinghouse. As obras ficaram com a sempre suspeita Odebrecht. Em 1978, mesmo sofrendo censura, o jornal Movimento denunciou o favorecimento da empresa Jary Florestal e Agropecuária, de propriedade do norte-americano Daniel Ludwig, pelo governo militar, que cedeu terras públicas da Amazônia para a empresa estrangeira. A denúncia, também até hoje não investigada, relatava que Heitor Ferreira, secretário particular do presidente Geisel, foi funcionário do sr. Ludwig até assumir o cargo no governo e agiu no governo para beneficiar seu antigo patrão. Outra denúncia divulgada pelo jornal Movimento nesse mesmo ano foi a acusação feita pelo general Hugo Abreu de que o general Figueiredo tinha recebido uma caixinha de 600 milhões de cruzeiros de empresas multinacionais para sua campanha, embora não houvesse eleição para presidente, nem para governador ou prefeito. A joia da Coroa Em 1980, no governo do general Figueiredo, os ministros Delfim Netto e Ernane Galvêas e o presidente do Banco Central, Carlos Langoni, convenceram a Coroa Brastel, empresa de Assis Paim, a fornecer um empréstimo de 180 milhões de cruzeiros à Corretora de Valores Laureano. Laureano era amigo do filho do então chefe do SNI, Golbery do Couto e Silva. Como o pagamento não foi realizado, o governo propôs que Assis Paim comprasse a Corretora de Valores Laureano. Mesmo com empréstimo de um banco estatal, a Coroa Brastel faliu e o prejuízo ficou com o governo. Os ministros Delfim Netto, do Planejamento, e Ernane Galvêas, da Fazenda, foram denunciados por desviar recursos públicos da Caixa Econômica Federal para o empresário, em 1981, mas o caso foi encerrado sem ninguém ser condenado ou preso. O Grupo Delfin No final de 1982, o jornalista José Carlos de Assis denunciou que o Grupo Delfin, maior empresa privada de crédito imobiliário da época, tinha dívida de 80 bilhões de cruzeiros com o Banco Nacional de Habitação (BNH). Para pagá-la, entregou dois terrenos, no valor de 9 bilhões. Vinte dias depois da reportagem ser publicada, 30 de dezembro de 1982, ocorreu a falência do Grupo Delfin pela retirada de fundos realizada pelos seus clientes. Em 1983, o Banco Central decretou intervenção no Grupo Delfin. Em 1991, o empresário fechou um acordo com o Banco Central que lhe permitia levar o que havia sobrado da Delfin, aproximadamente 300 milhões, e pagar a dívida em 13 anos, com dois anos de carência. Em 16 de março de 2006, o Supremo Tribunal de Justiça reconheceu como justo e apropriado o pagamento da dívida da Delfin com os dois imóveis que equivaliam a 11% do valor da dívida, e assim terminou mais uma caso de corrupção na ditadura militar. Verdadeiros marajás Quase todos os ministros que serviram à ditadura possuíam dezenas de empregados domésticos em suas residências em Brasília, onde eram promovidos jantares e festas, todas as semanas. O ministro do Trabalho, Arnaldo Prieto, tinha à sua disposição 28 empregados domésticos; ele e sua família consumiam por mês 954 quilos de carne, 600 quilos de arroz, 432 quilos de manteiga e 90 dúzias de ovos. Delfim Netto, conhecido como o czar da economia do regime militar (ministro dos ditadores Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, e Figueiredo), foi também embaixador em Paris, de 1975 a 1978. Na sua gestão, a sede da representação diplomática brasileira ficou conhecida mundialmente como “embaixada dez por cento”, porque de todos os negócios realizados com empresários europeus era cobrada a taxa de 10% que ia para um caixinha do embaixador. A denúncia chegou a ser discretamente publicada, mas logo foi abafada e nunca houve apuração. Não bastasse todo esse mar de lama, a dívida externa brasileira, que era de US$ 3,2 bilhões em 10 de abril de 1964, passou para 100 bilhões de dólares em 1984. Um crescimento de 10.000%. E até hoje nenhuma autoridade econômica da ditadura explicou este impressionante crescimento da dívida. Tem mais: a entidade internacional World Population apurou que, em 1979, morriam 52 crianças por hora no Brasil. A desnutrição foi responsável, neste mesmo ano, por 52,4% dos óbitos entre crianças de até cinco anos de idade e, em 1984, o país tinha 25 milhões de menores carentes e abandonados. Em uma entrevista ao jornal O Globo, de 28 de junho de 1987, o pediatra Yvon Rodrigues, da Academia Nacional de Medicina, afirmou que uma pesquisa realizada pelo próprio governo militar, mas não publicada devido a seus resultados aterradores, descobriu que no Brasil “havia famílias que comiam ratos, crianças que disputavam fezes…”. (A Verdade, nº 167) Ditadura nunca mais! Para garantir esse mar de lama, comunistas foram presos e perseguidos; entidades estudantis fechadas e universidades invadidas pela polícia; sindicatos sofreram intervenção, lideranças sindicais foram detidas e greves proibidas. A imprensa foi amordaçada, dezenas de jornalistas colocados na cadeia e as redações invadidas por policiais para censurar os jornais; canções e peças teatrais eram censuradas todos os dias e atores e cantores eram presos. No total, a ditadura militar torturou fisicamente 20 mil pessoas, prendeu 50 mil pessoas, cassou 7 mil militares e assassinou centenas de operários e camponeses. Mas não pense, caro leitor, que após o fim da ditadura os generais deixaram de meter suas mãos no dinheiro público. Segundo o Tribunal de Contas da União TCU), 25 oficiais, incluindo oito generais e seis coronéis, fraudaram licitações, realizaram contratos superfaturados e desviaram pelo menos 15 milhões de reais entre 2003 e 2009. Para o TCU, ocorreram fraudes em 88 licitações do Exército, além de suspeitas de roubo de materiais de construção e favorecimento de empresas. Somente um dos oficiais, tido como maior responsável pela articulação das falcatruas, conseguiu formar um patrimônio de R$10 milhões em imóveis. Mas, também nesse caso, a impunidade impera, e nenhum general foi preso. (Carta Capital, nº 666) Por isso, os trabalhadores, a juventude e o povo brasileiro sempre gritam bem alto: ditadura nunca mais! Como eliminar a corrupção Mas tudo isso não quer dizer que a corrupção não possa ser eliminada. Na verdade, não só pode, como deve. Primeiro, eliminando-se o capitalismo, pois a corrupção é um dos elementos constitutivos desse sistema. Mas o seu fim não se dá automaticamente. As mazelas do capitalismo, que corrompe corações e mentes, permanecem ainda por um bom tempo. Sua superação será fruto do processo de construção do socialismo, aprofundamento da consciência, da organização, do poder popular, com bastante crítica e autocrítica profundas e uma revolução cultural. Tudo isso começa agora: no partido, nas organizações de massa, nos movimentos sociais, nas entidades que dirigimos, e não apenas após a tomada do poder. Prof. Eugênio Duarte de Almeid21 de fevereiro de 2016 at 13:24 Muito boa e desmistificadora a coletânea de fatos apresentada. No entanto, não compartilho da conclusão. SP contra o PSDB22 de fevereiro de 2016 at 3:57 Cada brasileiro, antes de falar sobre qualquer caso de corrupção ocorrido na democracia, deveria ler e entender tudo que está descrito nessa reportagem.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Quem manda no Brasil...

Eles espalham terror, impõem sua lei nos presídios e têm poder semelhante aos grandes grupos de mafiosos. Ao longo dos últimos trinta anos, se tornaram conhecidos e temidos pela população brasileira. As facções criminosas Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) cresceram em importância não só nos estados onde surgiram, mas em todo o País. As atividades dos grupos, inicialmente concentradas nos complexos prisionais, venceram as muralhas das penitenciárias e ganharam as ruas em ações cinematográficas. Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, à frente do CV, e Marcos Willians Hermes Camacho, o Marcola, à frente do PCC, se tornaram homens procurados internacionalmente e ganharam notoriedade continental. Nem o mais pessimista especialista em segurança pública poderia prever tamanha expansão desse tipo de organização criminosa. Expansão esta que só tende a crescer, ancorada na omissão do Estado. Na semana passada, o Brasil foi apresentado, de forma traumática, a mais uma representante desta seara podre da sociedade brasileira . A “Família do Norte”, conhecida pela sigla FDN, dominou o noticiário nacional e internacional depois de comandar a execução de 56 presos ligados ao PCC durante rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, no Amazonas (leia reportagem na página 56). Foi o maior massacre dentro de uma prisão desde 1992, quando a Casa de Detenção de São Paulo, conhecida como Carandiru, foi invadida durante uma briga e 111 detentos foram mortos. Em vídeo feito por um detento na parte interna do Compaj, entre corpos decapitados e muito sangue, vê-se uma bandeira da organização criminosa. “É FDN que comanda, porra!”, desafia o preso que empunha a flâmula, sem se preocupar em esconder o rosto. 69 MISSÃO Bandeira do PCC pela paz não faz mais sentido; dinheiro é a força que move a facção A FORÇA DA FACÇÃO A FDN surgiu em 2006 da aliança entre dois ex-rivais do mundo do tráfico de Manaus. José Roberto Fernandes Barbosa, conhecido como “Compensa”, controlava a venda de drogas na região Oeste da cidade, enquanto Gelson Carnaúba, o “G”, dominava a região Sul. Presos, ambos cumpriram pena em presídios federais, onde tiveram contato com membros do CV e do PCC, e de lá voltaram determinados (ou orientados), segundo a Polícia Federal, a estruturarem uma operação nos moldes das facções do eixo Rio-São Paulo. Não demorou para o negócio decolar

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

51 anos, da ditadura militar

Os protestos de 15 de março, direcionados principalmente contra o governo federal e a presidente Dilma Rousseff, indicaram a insatisfação de parte da população com os casos de corrupção envolvendo partidos políticos, empresas públicas e empresas privadas. Algumas pessoas, inclusive, chegaram a pedir uma intervenção militar, alegando que essa seria a solução para o fim da corrupção. Mas será que nesse período a corrupção realmente não fazia parte da esfera política? Apesar da blindagem proporcionada pelas restrições ao Legislativo, Judiciário e imprensa, ainda assim a ditadura não passou imune a diversas denúncias de corrupção. O UOL listou dez delas, tendo como fonte a série de quatro livros de Elio Gaspari sobre o período ("A Ditadura Envergonhada", "A Ditadura Escancarada", "A Ditadura Derrotada" e "A Ditadura Encurralada") e reportagens da época. O primeiro item que envolve Delfim Netto contém uma resposta do ex-ministro sobre os casos. Veja: 1 - Contrabando na Polícia do Exército A partir de 1970, dentro da 1ª Companhia do 2º Batalhão da Polícia do Exército, no Rio de Janeiro, sargentos, capitães e cabos começaram a se relacionar com o contrabando carioca. O capitão Aílton Guimarães Jorge, que já havia recebido a honra da Medalha do Pacificador pelo combate à guerrilha, era um dos integrantes da quadrilha que comercializava ilegalmente caixas de uísques, perfumes e roupas de luxo, inclusive roubando a carga de outros contrabandistas. Os militares escoltavam e intermediavam negócios dos contraventores. Foram presos pelo SNI (Serviço Nacional de Informações) e torturados, mas acabaram inocentados porque os depoimentos foram colhidos com uso de violência – direito de que os civis não dispunham em seus processos na época. O capitão Guimarães, posteriormente, deixaria o Exército para virar um dos principais nomes do jogo do bicho no Rio, ganhando fama também no meio do samba carioca. Foi patrono da Vila Isabel e presidente da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba). 2 - A vida dupla do delegado Fleury Sérgio Paranhos Fleury Um dos nomes mais conhecidos da repressão, atuando na captura, na tortura e no assassinato de presos políticos, o delegado paulista Sérgio Fernandes Paranhos Fleury foi acusado pelo Ministério Público de associação ao tráfico de drogas e extermínios. Apontado como líder do Esquadrão da Morte, um grupo paramilitar que cometia execuções, Fleury também era ligado a criminosos comuns, segundo o MP, fornecendo serviço de proteção ao traficante José Iglesias, o "Juca", na guerra de quadrilhas paulistanas. No fim de 1968, ele teria metralhado o traficante rival Domiciano Antunes Filho, o "Luciano", com outro comparsa, e capturado, na companhia de outros policiais associados ao crime, uma caderneta que detalhava as propinas pagas a detetives, comissários e delegados pelos traficantes. O caso chegou a ser divulgado à imprensa por um alcaguete, Odilon Marcheronide Queiróz ("Carioca"), que acabou preso por Fleury e, posteriormente, desmentiu a história a jornais de São Paulo. Carioca seria morto pelo investigador Adhemar Augusto de Oliveira, segundo o próprio revelaria a um jornalista, tempos depois. Os atos do delegado na repressão, no entanto, lhe renderam uma Medalha do Pacificador e muita blindagem dentro do Exército, que deixou de investigar as denúncias. Promotores do MP foram alertados para interromper as investigações contra Fleury. De acordo com o relato publicado em "A Ditadura Escancarada", o procurador-geral da Justiça, Oscar Xavier de Freitas, avisou dois promotores em 1973: "Eu não recebo solicitações, apenas ordens. (…) Esqueçam tudo, não se metam em mais nada. Existem olheiros em toda parte, nos fiscalizando. Nossos telefones estão censurados". No fim daquele ano de 1973, o delegado chegou a ter a prisão preventiva decretada pelo assassinato de um traficante, mas o Código Penal foi reescrito para que réus primários com "bons antecedentes" tivessem direito à liberdade durante a tramitação dos recursos. Em uma conversa com Heitor Ferreira, secretário do presidente Ernesto Geisel (1974-1979), o general Golbery do Couto e Silva – então ministro do Gabinete Civil e um dos principais articuladores da ditadura militar – classificou assim o delegado Fleury, quando pensava em afastá-lo: "Esse é um bandido. Agora, prestou serviços e sabe muita coisa". Fleury morreu em 1979, quando ainda estava sob investigação da Justiça. 3 - Governadores biônicos e sob suspeita Em 1970, uma avaliação feita pelo SNI ajudou a determinar quais seriam os governadores do Estado indicados pelo presidente Médici (1969-1974). No Paraná, Haroldo Leon Peres foi escolhido após ser elogiado pela postura favorável ao regime; um ano depois, foi pego extorquindo um empreiteiro em US$ 1 milhão e obrigado a renunciar. Segundo o general João Baptista Figueiredo, chefe do SNI no governo Geisel, os agentes teriam descoberto que Peres "era ladrão em Maringá" se o tivessem investigado adequadamente. Na Bahia, Antônio Carlos Magalhães, em seu primeiro mandato no Estado, foi acusado em 1972 de beneficiar a Magnesita, da qual seria acionista, abatendo em 50% as dívidas da empresa. 4 - O caso Lutfalla Paulo Maluf Outro governador envolvido em denúncias foi o paulista Paulo Maluf. Dois anos antes de assumir o Estado, em 1979, ele foi acusado de corrupção no caso conhecido como Lutfalla – empresa têxtil de sua mulher, Sylvia, que recebeu empréstimos do BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento) quando estava em processo de falência. As denúncias envolviam também o ministro do Planejamento Reis Velloso, que negou as irregularidades, e terminou sem punições. 5 - As mordomias do regime Em 1976, as Redações de jornal já tinham maior liberdade, apesar de ainda estarem sob censura. O jornalista Ricardo Kotscho publicou no "Estado de São Paulo" reportagens expondo as mordomias de que ministros e servidores, financiados por dinheiro público, dispunham em Brasília. Uma piscina térmica banhava a casa do ministro de Minas e Energia, enquanto o ministro do Trabalho contava com 28 empregados. Na casa do governador de Brasília, frascos de laquê e alimentos eram comprados em quantidades desmedidas – 6.800 pãezinhos teriam sido adquiridos num mesmo dia. Filmes proibidos pela censura, como o erótico "Emmanuelle", eram permitidos na casa dos servidores que os requisitavam. Na época, os ministros não viajavam em voos de carreira, e sim em jatos da Força Aérea. Antes disso, no governo Médici já se observavam outras regalias: o ministro do Exército, cuja pasta ficava em Brasília, tinha uma casa de veraneio na serra fluminense, com direito a mordomo. Os generais de exército (quatro estrelas) possuíam dois carros, três empregados e casa decorada; os generais de brigada (duas estrelas) que iam para Brasília contavam com US$ 27 mil para comprar mobília. Cabos e sargentos prestavam serviços domésticos às autoridades, e o Planalto também pagou transporte e hospedagem a aspirantes para um churrasco na capital federal. 6 - Delfim e a Camargo Corrêa Delfim Netto Delfim Netto – ministro da Fazenda durante os governos Costa e Silva (1967-1969) e Médici, embaixador brasileiro na França no governo Geisel e ministro da Agricultura (depois Planejamento) no governo Figueiredo – sofreu algumas acusações de corrupção. Na primeira delas, em 1974, foi acusado pelo próprio Figueiredo (ainda chefe do SNI), em conversas reservadas com Geisel e Heitor Ferreira. Delfim teria beneficiado a empreiteira Camargo Corrêa a ganhar a concorrência da construção da hidrelétrica de Água Vermelha (MG). Anos depois, como embaixador, foi acusado pelo francês Jacques de la Broissia de ter prejudicado seu banco, o Crédit Commercial de France, que teria se recusado a fornecer US$ 60 milhões para a construção da usina hidrelétrica de Tucuruí, obra também executada pela Camargo Corrêa. Em citação reproduzida pela "Folha de S.Paulo" em 2006, Delfim falou sobre as denúncias, que foram publicadas nos livros de Elio Gaspari: "Ele [Gaspari] retrata o conjunto de intrigas armado dentro do staff de Geisel pelo temor que o general tinha de que eu fosse eleito governador de São Paulo", afirmou o ex-ministro. Outro lado: Em relação às denúncias que envolvem seu nome nesse texto, o ex-ministro Delfim Netto respondeu ao UOL: "Trata-se de velhas intrigas que sempre foram esclarecidas. Nunca tive participação nos eventos relatados". 7 - As comissões da General Electric Durante um processo no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) em 1976, o presidente da General Electric no Brasil, Gerald Thomas Smilley, admitiu que a empresa pagou comissão a alguns funcionários no país para vender locomotivas à estatal Rede Ferroviária Federal, segundo noticiou a "Folha de S.Paulo" na época. Em 1969, a Junta Militar que sucedeu Costa e Silva e precedeu Médici havia aprovado um decreto-lei que destinava "fundos especiais" para a compra de 180 locomotivas da GE. Na época, um dos diretores da empresa no Brasil na época era Alcio Costa e Silva, irmão do ex-presidente, morto naquele mesmo ano de 1969. Na investigação de 1976, o Cade apurava a formação de um cartel de multinacionais no Brasil e o pagamento de subornos e comissões a autoridades para a obtenção de contratos. 8 - Newton Cruz, caso Capemi e o dossiê Baumgarten O jornalista Alexandre von Baumgarten, colaborador do SNI, foi assassinado em 1982, pouco depois de publicar um dossiê acusando o general Newton Cruz de planejar sua morte – segundo o ex-delegado do Dops Cláudio Guerra, em declaração de 2012, a ordem partiu do próprio SNI. A morte do jornalista teria ligação com seu conhecimento sobre as denúncias envolvendo Cruz e outros agentes do Serviço no escândalo da Agropecuária Capemi, empresa dirigida por militares, contratada para comercializar a madeira da região do futuro lago de Tucuruí. Pelo menos US$ 10 milhões teriam sido desviados para beneficiar agentes do SNI no início da década de 1980. O general foi inocentado pela morte do jornalista. 9 - Caso Coroa-Brastel Delfim Netto sofreria uma terceira acusação direta de corrupção, dessa vez como ministro do Planejamento, ao lado de Ernane Galvêas, ministro da Fazenda, durante o governo Figueiredo. Segundo a acusação apresentada em 1985 pelo procurador-geral da República José Paulo Sepúlveda Pertence, os dois teriam desviado irregularmente recursos públicos por meio de um empréstimo da Caixa Econômica Federal ao empresário Assis Paim, dono do grupo Coroa-Brastel, em 1981. Galvêas foi absolvido em 1994, e a acusação contra Delfim – que disse na época que a denúncia era de "iniciativa política" – não chegou a ser examinada. 10 - Grupo Delfin Denúncia feita pela "Folha de S.Paulo" de dezembro de 1982 apontou que o Grupo Delfin, empresa privada de crédito imobiliário, foi beneficiado pelo governo por meio do Banco Nacional da Habitação ao obter Cr$ 70 bilhões para abater parte dos Cr$ 82 bilhões devidos ao banco. Segundo a reportagem, o valor total dos terrenos usados para a quitação era de apenas Cr$ 9 bilhões. Assustados com a notícia, clientes do grupo retiraram seus fundos, o que levou a empresa à falência pouco depois. A denúncia envolveu os nomes dos ministros Mário Andreazza (Interior), Delfim Netto (Planejamento) e Ernane Galvêas (Fazenda), que chegaram a ser acusados judicialmente por causa do acordo. Golpe militar completa 51 anos; relembre Veja 10 fatos revelados pela Comissão da Verdade sobre a ditadura no Brasil10 fotos 1 / 10 Em 2012, a pedido da Comissão Nacional da Verdade, a Justiça de SP determinou a retificação do atestado de óbito do jornalista Vladimir Herzog, o que derrubou a tese militar de que ele teria se suicidado no dia 25 de outubro de 1975, nas dependências do 2º Exército, em São Paulo. O novo documento faz constar que Herzog foi vítima de lesões e maus-tratos. A família recebeu o novo documento no dia 15 de março de 2013 Leia mais no blogger A Lógica do Absurdo 1.

domingo, 23 de março de 2014

O BRASIL INTEIRO DEVERIA LER ESTA ENTREVISTA Entrevista com o líder do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, ao jornal O Globo. Estamos todos no inferno. Não há solução, pois não conhecemos nem o problema O GLOBO: Você é do PCC? - Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível… vocês nunca me olharam durante décadas… E antigamente era mole resolver o problema da miséria… O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias… A solução é que nunca vinha… Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a “beleza dos morros ao amanhecer”, essas coisas… Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo… Nós somos o início tardio de vossa consciência social… Viu? Sou culto… Leio Dante na prisão… O GLOBO: – Mas… a solução seria… - Solução? Não há mais solução, cara… A própria idéia de “solução” já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma “tirania esclarecida”, que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (Ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC…) e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até conference calls entre presídios…). E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não há solução. O GLOBO: – Você não têm medo de morrer? - Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar… mas eu posso mandar matar vocês lá fora…. Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba… Estamos no centro do Insolúvel, mesmo… Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração… A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala… Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em “seja marginal, seja herói”? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha… Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante… mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país. Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem.Vocês não ouvem as gravações feitas “com autorização da Justiça”? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo. O GLOBO: – O que mudou nas periferias? - Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório… Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no “microondas”… ha, ha… Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência. O GLOBO: – Mas o que devemos fazer? - Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? O Exército? Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas… O país está quebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas. O Exército vai lutar contra o PCC e o CV? Estou lendo o Klausewitz, “Sobre a guerra”. Não há perspectiva de êxito… Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas… A gente já tem até foguete anti-tanques… Se bobear, vão rolar uns Stingers aí… Pra acabar com a gente, só jogando bomba atômica nas favelas… Aliás, a gente acaba arranjando também “umazinha”, daquelas bombas sujas mesmo. Já pensou? Ipanema radioativa? O GLOBO: – Mas… não haveria solução? - Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a “normalidade”. Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco…na boa… na moral… Estamos todos no centro do Insolúvel. Só que nós vivemos dele e vocês… não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema. Como escreveu o divino Dante: “Lasciate ogna speranza voi cheentrate!” Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno.